CRÔNICA 29 - O SONHO QUE AJUDEI A REALIZAR
Durante o
tempo que atuei no Ministério Público Federal, em Brasília, além dos processos
e dos julgamentos na Justiça e nos Tribunais Superiores, também fui Secretário
Geral, o cargo administrativo mais alto na estrutura da Procuradoria Geral da
República, encarregado de coordenar as ações administrativas de âmbito
nacional. Inicialmente,
tive a honra de trabalhar por 4 anos, a partir de agosto de 1991, com o Procurador-Geral
da República, Aristides Junqueira. Nosso trabalho mais relevante foi consolidar
a autonomia administrativa, financeira e orçamentária do MPF e da PGR,
preparando projetos de lei, implantando a informatização desde o início e
realizando concursos para ingressos de servidores específicos para função
ministerial. Realizei o primeiro e o segundo concursos. Com a edição da Lei
Complementar nº 75/93, nosso trabalho aumentou, pois tivemos que instalar cinco
procuradorias regionais, algumas em Capitais de Estado e muitas em Municípios,
pois naquela época teve início da interiorização da Justiça Federal e do MPF. Nunca o
cargo de Secretário-Geral fora ocupado por um membro da carreira, um Procurador
da República. Contudo, devido à insatisfação com resultados anteriores, houve
pedido das associações e dos colegas para que fosse nomeado alguém da carreira,
por ter mais compromisso com a instituição. Fui o primeiro a ser escolhido, pois
me acharam à altura do cargo, tanto por ter sido prefeito da minha cidade
natal, como por ter cursado Administração. Por sorte, deu tudo certo e essa
prática continua até hoje, decorridos 31 anos. Se tivesse falhado, certamente
não teria continuado... Ao terminar a gestão de Aristides em
1995, haveria a troca de PGR e de Secretário-Geral, como é normal na rotina da
administração. Fui solicitado a continuar, aceitei e fiquei até 31 de janeiro
de 2000 no cargo, saindo para voltar ao trabalho jurídico, da qual estivera
afastado por longos oito anos e meio. Ao assumir o novo PGR, Geraldo
Brindeiro, já numa primeira reunião, manifestou intenção de construir uma nova
sede para a PGR, em terreno já reservado, com projeto de Oscar Niemeyer,
considerado o arquiteto-mor dos prédios públicos de Brasília, entre eles os
tribunais superiores. Fomos para o Rio. Lá o Brindeiro formulou o convite, que
o arquiteto aceitou, e nós, os administradores e engenheiros, apresentamos o
programa, ou seja, o que pretendíamos em face das nossas necessidades. Algum tempo depois, ocorreu a
licitação, bastante concorrida, sagrando-se vencedora, não as "empresas de
sempre" (OAS e Odebrecht), mas a Serveng Civilsan, nacionalmente
conhecida, que apresentou melhor proposta e garantia de que entregaria pronta a
obra no prazo. Até então fora a maior licitação feita pelo MPF. Nenhum
questionamento administrativo ou judicial foi levantado quanto ao resultado, o
que demonstra sua total lisura e correção. Como coordenador da área
administrativa, coube-me supervisionar toda a obra. Desde o início, apresar de
não ser exigido por lei, criei uma comissão de acompanhamento da obra,
realizando reuniões semanais com os setores envolvidos - Secretarias de
Orçamento, Administração e Informática, equipe de engenheiros que fiscalizaram
a obra, o secretário-geral adjunto e o Auditor Interno, de tudo lavrando ata
para registrar as decisões tomadas, garantindo transparência por um órgão
coletivo. Não toquei a obra até o final, mas
auxiliei com minha atuação até o momento em que ela estava com 70% concluída,
em agosto de 1999, substituindo-me o adjunto, a quem coube finalizar os
restantes 30%. Fiz isso unicamente para voltar à minha atividade principal na
área jurídica, pois já estava 8 anos longe dos processos, num desvio que me
deixava desatualizado e afastado da carreira. Mesmo assim, para fazer a
transição, vinha recebendo, a meu pedido, nos últimos 2 anos, metade da
distribuição dos demais colegas, duplicando meu serviço. Mas valeu a pena, pois
já fiquei com o gabinete montado. De fato, a PGR precisava de uma sede
nova para corresponder à sua importância no cenário nacional e na convivência
com os tribunais superiores. O belo e majestoso prédio cilíndrico bem
representa esse momento de presença e afirmação do novo MP. No dia 15 de agosto de 2022, uma
segunda-feira, houve solenidade de comemoração do 20º aniversário da
inauguração do edifício da Procuradoria-Geral da República, à qual comparecerei
com orgulho por ter colaborado, com dedicação e sacrifício, à concretização
desse sonho coletivo. Não tive nome em placa, mas ninguém me tira a honra de o
sentimento de haver feito algo realmente importante para o Ministério Público
Federal e cumprido meu dever com a instituição que tanto amo e marcou minha
vida para sempre.